20.2.09

(mínimas ficciones/mínimas ficções








(escorpión



Las ideas se atropellan como olas diligentes. La arena escalda.




Tiempo infeliz, sostenido por palabras metódicas, ausentes.




La inquietud es un escorpión negro. La mujer retrocede.




escorpião








As ideias atropelam-se como ondas diligentes. A areia escalda.




Tempo infeliz, sustentado por palavras metódicas, ausentes.




A inquietude é um escorpião negro. A mulher recua.)



***



(pureza








El mar se alza dulce, acogedor. Observo mis pasos




bajo el resplandor de la luz. El primer impulso es correr, veloz.




El segundo dibuja un compulsivo deseo de huir exterior a




mí, el tercero silencia la mente, no resiste a la llama. Los muertos




entreabren un círculo de la memoria, los vivos se desean con




perversión o pureza. Quiero el amor de los puros.








La «pura voluptas» de Lucrecio.






pureza








O mar ergue-se doce e convidativo. Observo os meus passos




sob o resplendor da luz. O primeiro impulso é correr, veloz.




O segundo desenha uma compulsiva vontade de fugir exterior a




mim,o terceiro silencia a mente, não resiste à chama. Os mortos




entreabrem um círculo da memória, os vivos desejam-se com




perversão ou pureza. Quero o amor dos puros.







A «pura voluptas» de Lucrécio.





***








nieve


Despierto de madrugada, mi corazón es una planicie desierta,




corazón desgarrado desesperado hinchado cordero manso o




feroz de ojos vacíos. No te reclines dócilmente, van a robarte




todo, el ladrón vendrá de noche y te dirá



«¡No ames!»



No lo dejes, expúlsalo, te extirpará el hígado y serás lo que no




eres y eres ahora, no lo que fuimos y somos hoy, el misterio no




sucederá como no sucedió el milagro, el después evitará el




antes y ése será el fin, silencio de eterna nieve.






neve



Acordo de madrugada, o meu coração é uma planície deserta,




coração dilacerado desesperado inchado cordeiro manso ou




feroz de olhos furados. Não te deites docilmente, vão roubar-te




tudo, o ladrão virá de noite e dir-te-á



«Não ames!»




Não deixes, expulsa-o, extirpar-te-á o fígado e ficarás o que não




és e és agora, não o que fomos e somos hoje, o mistério não




acontecerá como o milagre não aconteceu, o depois evitará o




antes e esse será o fim, silêncio de eterna neve.



(De lápis mínimo, 2008)



*Ana Marques Gastão (Lisboa, 1962).


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